Origem da Família Arboit: o ramo Cornarot

Rocca é o berço da Família Arboit na Itália, localizada no município de Arsiè e pertencente à província de Belluno, ao norte da península itálica. Um pequeno detalhe identificava a numerosa família Arboit, remanescente dum contexto massivo, opressivo, sacrificado e de graves desordens históricas continuadas após a primeira metade do século XIX, cenário que antecedia a unificação dos reinos italianos e libertação de mãos estrangeiras dominantes. Assim entremeio à condição histórica e contradições culturais e existenciais, as famílias crescem, evoluem e se dispersam diante da miséria e fome e mediante movimentos migratórios por tais estímulos expulsores ou atrativos. 

Para reencontrar os Arboit espalhados pela tão sonhada América exige conhecimento das origens de Rocca de Arsiè. A arte do reencontro. A dispersão, de certo modo natural, do núcleo familiar se deve também aos componentes migratórios da província de Belluno, "cujos trabalhadores voltavam à pátria dois meses ao ano e trabalhavam no exterior" (FRANZINA, 2006: 38) e por mais de quatro décadas.

Por que as famílias se dispersam atualmente? Pelas necessidades de estudos fora da origem, de trabalho ou união afetiva de filhos e filhas. E por lá não foi diferente. Os Arboit advêm de quatro ramos, e cada um tinha um apelido Michielot, Cornaro, Cornarot e Zanco, segundo relatou o Sr. Francesco Pellin, arquivista da paróquia de Arsié, da Chiesa di Santa Maria Assunta. Esses apelidos representam a localidade onde cada grupo da família morava e interagia. A nossa família, advinda de meus heptavós Zuanne Arboit (1720) e Anna Maddalozo (1720), era conhecida por morar na localidade de Cornarot. 

Nas palavras do genealogista Mark Humphrys,

"Nossos ancestrais são, nada mais e nada menos, aquela mistura de gente bruta, idiota, obstinada, intolerante, incompetente, covarde, junto com outros inteligentes e notáveis, que sempre constituiu a sociedade. Existimos porque existiram pessoas que desprezaríamos se as encontrássemos pessoalmente. Genealogia é sobretudo descobrir o que elas foram realmente, não importa se foram admiráveis ou não. De fato, é mais divertido quando elas foram assassinas, quando se casaram com os piores inimigos de seus pais, quando foram o sórdido resultado de amores fracassados, quando morreram antes de conhecer seus filhos, e assim por diante. Isso nos dá consciência do quão precária é a nossa existência, e do quão misturada e improvável é a nossa herança genética. Qualquer um que acredite que pertence a uma única raça, ou que seus ancestrais foram só 'gente fina', simplesmente não pesquisou o bastante.

Isso é especialmente verdadeiro quando falamos da nobreza e da realeza, que geralmente são os únicos ancestrais conhecidos quando encontramos uma linha que nos leva ao passado distante. Por que deveríamos admirar um nobre, ou tomar seu partido? A nobreza do passado geralmente não foi senão os ladrões mais bem sucedidos, aqueles que roubavam as terras alheias, e viviam às custas do trabalho dos outros. Eles não eram escolhidos de Deus, foram apenas os sobreviventes de um longo processo de seleção natural entre os grupos mais fortes, agressivos e organizados, ajudados pelos maiores ladrões de todos os tempos: as famílias reais”.

Aos poucos vamos conhecendo a Vila onde nossos ancestrais nasceram, no caso a Vila de Rocca, somos as gerações de 1720 a 2020. Quantas vivências nesses 300 anos da Família Arboit? A história dominante que perpassa nossas entranhas nos faz sobreviver mediante cultivo de afetos e eventos familiares dos quais nossa existência provavelmente depende. Nossa família veio de uma casa em uma vila interconectada com outras casas e vilas, inclusive de homens fortes e mulheres guerreiras, que ali nasceram e cresceram, meio lá na Áustria e por ali em Rocca, e de certo modo contribuíam com algo para a comunidade, entretanto se viram obrigados a partir para o desconhecido mundo americano, para as tão sonhadas propriedades, farturas e família unida, sem necessidade de que o chefe da família ficasse dez meses fora de sua terra natal, entre safras e vendas dos produtos nos mercados austríacos.

Amar quem somos, tantas pessoas numa só. 300 anos de história familiar dos Arboit Cornarot.

Referências

FRANZINA, Emilio. A Grande Emigração: o êxodo dos italianos do Vêneto para o Brasil. Campinas: Ed. da Unicamp, 2006.

GROSSELI, Renzo Maria. Vencer ou Morrer: camponeses trentinos (venetos e lombardos) nas florestas brasileiras. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1987. 

LORENZONI, Julio. Memórias de um Imigrante Italiano. Porto Alegre: Sulina, 1975.

Comentários

  1. É deverasmente importante para nós descendentes da familia Arboit receber os resultados desta pesquisa que você minha prima Rocio Rodi, movida pelo amor dedica-se a peregrinar nestas terras tão longínquas. Gratidão! 🙏

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    1. Querida prima Izabel, quisera eu representar a família nos saberes que se descortinam na pesquisa, a gente reúne o que se espalha e se admira junto a vocês do que nossos ancestrais nos ajudam a pensar, a questionar, a repensar e a agradecer o caminho e as pedras que nele se nos interpõem. Agradeço uma vez mais suas palavras carinhosas e de incentivo.

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  2. Prima,casa vez que leio uma nova pesquisa sinto uma coisa muito boa,parece que consigo visualizar tudo o que escreve!

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  3. Meu nome é Cláudia (Alboitt) já com alteração no nome. Sou descendente da família Alboitt em Paranaguá-PR.
    Onde tem o bairro Vila Alboitt.
    Estou amando saber da história da família Arboit.

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    1. O bairro começou com a aquisição de terras no início do século passado por parte de Giovanni Battista Arboit (João Alboit) que presenteou a cada um de seus filhos e irmão. Alboitt é mais uma variação do nome da Família Arboit, devido às transcrições registradas nos livros de registros no cartórios. Legitimamente o nome italiano é ARBOIT. Que bom que gosta de saber mais sobre a nossa origem. Seja bem-vinda!

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