Ítalos-Brasileiros: bate no peito uma saudade...

Morar no Brasil?

Interesse italiano: ao conflito permanente o direito de emigrar, uma pátria para poucos, embate entre o antigo mundo rural e a sociedade capitalista emergente, cultura burguesa x cultura camponesa, a fome e a pobreza crônica; a Terra, o Trabalho, a Liberdade, o Sonho... rumo a uma Itália aterritorial, passos doloridos; é preciso coragem!

Interesse brasileiro: a terra ociosa, ameaça de perda, o interesse espanhol, a mão-de-obra especializada, a terra produtiva, e o seu lado deprimente ocorre por conta da política de época: o preconceito populacional de ter grupos socialmente inferiorizados e manifesto desejo dessa elite ao querer "branquear" seu povo.

O desafio: a travessia transoceânica, de alto risco, superlotada, perigosa e difícil, um jogo no escuro, naufrágios comuns; sem requisitos higiênico-sanitários, contaminações, mortes, angústias...

Do governo italiano: sob a pressão do capitalismo, milhões de camponeses foram expulsos de suas terras, o mundo velho desaparece a duras penas e nasce entre muitos sofrimentos, uma sociedade nova; economia estagnada; diminui a população, sobra alimento; aos de lá, recomeçar a vida no meio do mato e entre animais ferozes; envio de "valores" dos que aqui chegaram para parentes que por lá ficaram. O ministro das finanças da Itália considerava tais remessas um "ruscello d'oro" (filete de ouro). O nome italiano tornara-se sinônimo de divisão. Como frear a expatriação de famílias inteiras e de inteiras populações?

A esperança: viver com mais dignidade e alegria, porém, longe da Terra Natal e das raras festas barulhentas. Cá vieram e a Itália prospera, levanta mediante capitalismo agrário - a construção das primeiras fábricas e novos serviços (laticínios, pecuária, agricultura, serralherias, marcenarias), é a certidão de nascimento na era industrial.

Minha inspiração: o afeto familiar, a saudade dos amados pai e mãe que se foram, e também de quem não conheci, como meu irmão Sergio Roberto Rodi, do meu avô Luiz Lourenço Rodi, da minha avó Paulina Arboit Rodi que não abracei, de seus pais, seus avós, seus bisas, e dos pais, avós ou bisas desses queridos bisas.

Qual o objetivo? a cidadania italiana? De conhecer a história da família a partir dos ouvidos de criança entremeio aos brinquedos e sentimentos, recortes de distração e imaginação infantil, e muita busca em documentos, fotos antigas, livros, sites, artigos, periódicos, visitações e conversas.

Em 2009, recebi de meu irmão Luiz a missão de investigar sobre nossas origens italianas. Nosso pai, Newton Arboit Rodi, faleceu em 1989. Minha mãe Yonne de Souza Pereira Rodi faleceu em 2014. Mesmo assim a pesquisa iniciou e continuou após a partida deles, com vagas lembranças e muito desejo de levantar a memória familiar.

Estudando a história da emigração italiana que aconteceu durante o período de 1874 a 1920, e hoje somos cerca de 25 milhões no Brasil, constatamos que os ítalo-brasileiros são considerados a maior população fora da Itália. Mas, nos deparamos além dos tristes números de um povo sofrido em suas duras privações, com alguns trechos da carta de um emigrante italiano da Lombardia, datada de 1876 e é assinada por muitas pessoas, em resposta a um ministro italiano, autor de uma circular restritiva no setor da emigração, que os aconselhava a não emigrar:

"Encare-nos, senhor barão. As nossas faces pálidas e amareladas e nossas maçãs do rosto afundadas, com sua muda eloquência, não lhe são testemunhas de excessiva fadiga e de absoluta falta de nutrição? Nossa vida é tão amarga que por pouco não é morte. Cultivamos o trigo e não sabemos o que é o pão branco. Cultivamos vinhas e não bebemos vinho. Criamos animais e nunca comemos carne. Vestimos farrapos, moramos em covis... E com isso, o senhor não pretende que emigremos? Oprimido e vexados em todas as maneiras possíveis, vamo-nos embora, para que o senhor viva melhor...".

- É uma pátria a terra em que não se consegue viver do próprio trabalho?

TENHA ORGULHO DE SEUS HUMILDES ANTEPASSADOS
São as pessoas humildes que eu procuro,
O sal da Terra, por assim dizer,
Aqueles que domaram o solo bruto,
E fizeram nele as sementes florescer.

São estes que eu gosto de encontrar
Quando mergulhada na estrada da genealogia.
E é apenas por orgulho que me deixo levar,
Refazendo seus passos para assim os imortalizar.

Aqueles que buscam o passado com sonhos de glória,
De encontrar heróis educados em cada história,
Não devem jamais se desapontara
Ainda que descobrirem que os humildes ancestrais
Tinham somente as estrelas para contemplar.

G. McCov / Source: The Sunny Side of Genealogy, compiled by Fonda D. Baselt, Genealogical Publishing C., Baltimore, 1988, p.10. Tradução livre Lea S. Beraldo.


Referências
CENNI, Franco. Italianos no Brasil: "andiamo in 'Mérica". 3 ed. São Paulo: EDUSP, 2003.
FRANZINA, Emilio. A Grande Imigração: o êxodo dos italianos do Vêneto para o Brasil. Trad. Edilene Toledo e Luigi Biondi. Campinas: UNICAMP, 2006.
IBGE, Brasil 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro, 2000.
PALU FILHO, Antonio Sergio; MOLETTA, Susete. Italianos no Novo Mundo: história, imigração, genealogia, heráldica. 2 ed. Curitiba: Edição dos Autores, 2012.
VILLA, Deliso. Storia Dimenticata. Porto Alegre: Est Edições, 2002.

Marcadores: Emigrantes Italianos, Genealogia, Veneto, Arboit, Saudade

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